quinta-feira, 12 de junho de 2014

Capítulo 12

Não me lembro bem do que aconteceu depois que chegamos. Os flashes dos 
fotógrafos espocaram ao nosso redor enquanto andávamos pela área de imprensa, mas eu 
mal me dei conta disso, estava sorrindo apenas por inércia. Na verdade, estava retraída e 
ansiosa para me livrar da tensão que Joseph exalava na minha direção. 
 No momento em que entramos, alguém chamou seu nome e ele se virou. Saí de 
fininho, olhando ao redor, para os outros convidados, que lotavam a entrada acarpetada do evento. 
 Quando cheguei à recepção, apanhei duas taças de champanhe da bandeja de um 
garçom que passava e virei uma delas enquanto procurava por Cary. Quando o vi do outro 
lado do salão junto com minha mãe e Stanton, fui direto até lá, descartando a taça vazia 
sobre uma mesa no caminho. 
 “Demetria!” A expressão da minha mãe se iluminou ao me ver. “Esse vestido ficou 
maravilhoso em você!” 
 Ela me cumprimentou beijando minhas bochechas sem tocá-las. Estava linda em um 
vestido longo e justo, azul e brilhante. Suas orelhas, seus pulsos e sua garganta estavam 
adornados de safiras, ressaltando a cor de seus olhos e o tom de sua pele. 
 “Obrigada.” Dei um gole na segunda taça de champanhe, lembrando que havia 
planejado expressar minha gratidão pelo vestido. Enquanto agradecia pelo presente, não 
estava mais tão contente com sua conveniente abertura na perna.  Cary tomou a frente, pegando-me pelo cotovelo. Só de olhar para meu rosto ele percebeu que eu estava chateada. Balancei a cabeça, mostrando que não queria falar sobre o assunto naquele momento. 
 “Mais champanhe, então?”, ele perguntou, gentil. 
 “Por favor.” 
Senti que Joseph se aproximava antes mesmo de ver o rosto de minha mãe se iluminar como a Times Square em noite de Ano-Novo. Stanton também pareceu se ajeitar e 
se empertigar todo. 
 “Demetria.” Joseph apoiou a mão na parte inferior de minhas costas nuas, e uma onda de 
choque percorreu meu corpo. Com seus dedos grudados em mim, perguntei-me se ele 
sentia a mesma coisa. “Você fugiu.” 
 Fiquei gelada com o tom de reprovação que ouvi em sua voz. Eu o fuzilei com um 
olhar que dizia tudo aquilo que eu não podia falar em público. “Richard, você conhece 
Joseph Jonas?” 
 “Sim, é claro.” Os dois se cumprimentaram. 
 Joseph me puxou mais para perto. “Temos a sorte de acompanhar as duas mulheres 
mais bonitas de Nova York.”  Stanton concordou, abrindo um sorriso para minha mãe. 
 Virei o restante do meu champanhe e troquei com gratidão a taça vazia pela que 
Cary havia me trazido. O álcool produzia uma leve queimação no meu estômago, e ajudava a desatar um pouco o nó que havia se formado lá dentro. 
 Joseph se inclinou na minha direção e cochichou em um tom áspero: “Não se esqueça de que você está comigo”. 
 O cara era maluco? Que conversa era aquela? Meus olhos se estreitaram de raiva. 
“Olha só quem fala.” 
 “Aqui não, Demetria.” Ele acenou com a cabeça para todos e me levou dali. “Agora não.” 
 “Nem nunca”, murmurei, concordando em ir com ele só para poupar minha mãe daquela cena. 
Virando taças de champanhe, eu me coloquei no piloto automático e passei a agir 
num modo de autopreservação ao qual não recorria havia muitos anos. Joseph me 
apresentou a algumas pessoas, e acho que minha atuação foi boa — falando nos momentos 
certos e sorrindo quando necessário —, mas não estava prestando a mínima atenção. Eu 
estava mais preocupada com a parede de gelo que se ergueu entre nós, com minha raiva e minha mágoa. Caso eu ainda precisasse de alguma prova da determinação de Joseph em 
evitar interações sociais com as mulheres com quem dormia, tinha acabado de obtê-la. 
 Quando o jantar foi anunciado, fui com ele para a mesa e mal toquei na comida. 
Bebi algumas taças de vinho tinto que serviram junto com a refeição e ouvi Joseph 
conversar com as demais pessoas à mesa. Não prestei a menor atenção às palavras, apenas à cadência e o tom sedutor e equilibrado da sua voz. Felizmente, ele não tentou me integrar à conversa. Acho que eu não diria nada que prestasse.
 Só voltei a demonstrar interesse quando, em meio a uma salva de palmas, ele subiu 
até o palco. Eu me virei na cadeira e o observei enquanto caminhava em direção ao púlpito, incapaz de deixar de admirar sua elegância natural e sua beleza impressionante. A cada passo que dava ele impunha atenção e respeito, o que era uma proeza, considerando suas passadas tranquilas e sem pressa. 
 Joseph não lembrava nem um pouco aquele sujeito vulnerável depois da nossa foda 
desmedida na limusine. Na verdade, parecia outra pessoa. Ele havia voltado a ser o homem que conheci no saguão do Jonas Building, absolutamente controlado e naturalmente poderoso. 
 “Em nosso país”, ele começou, “o abuso sexual na infância é uma realidade para 
uma a cada quatro mulheres e um a cada quatro homens. Dê uma boa olhada ao seu redor. 
Alguém da sua mesa pode ter sido uma vítima, ou então conhece uma. Essa é a inaceitável verdade.”
 Fiquei vidrada nele. Joseph era um grande orador, e seu tom de barítono era 
hipnotizante. Mas era o tema de seu discurso, tão pessoal para mim, e sua maneira 
apaixonada e às vezes surpreendente de abordá-lo que me emocionou. Comecei a amolecer, sentindo minha fúria injuriada e minha autoconfiança ferida dando lugar ao 
deslumbramento. Minha visão sobre ele mudou quando me vi apenas como mais um 
membro de uma plateia atenta. Ele não era mais o homem que tinha acabado de magoar 
meus sentimentos; era apenas um palestrante habilidoso falando sobre uma questão 
importantíssima para mim. 
Quando terminou, eu me levantei e aplaudi, surpreendendo tanto Joseph como a 
mim mesma. No entanto, os demais logo se juntaram a mim naquela ovação, e comecei a 
ouvir as conversas que zuniam ao redor, desmanchando-se discretamente em merecidos 

elogios. 
“Você é uma menina de sorte.” 
 Virei-me para ver de quem era a voz que havia dito aquilo, e me deparei com uma 
bela ruiva que parecia ter pouco mais de quarenta anos. “Somos só... amigos.” 
 Seu sorriso sereno fazia de tudo para me desmentir. 
 As pessoas começaram a abandonar as mesas. Eu estava prestes a pegar minha bolsa 
e ir para casa quando um jovenzinho se aproximou para falar comigo. Seus cabelos 
castanhos rebeldes despertavam uma inveja imediata, e seus olhos de um tom de verde 
acinzentado eram gentis e amistosos. Bonito e ostentando um sorriso jovial, ele arrancou de mim o primeiro sorriso sincero desde que saí da limusine. 
 “Olá.” 

 Ele parecia me conhecer, o que me deixou na desconfortável posição de fingir que fazia alguma ideia de quem ele era. “Olá.” 
 Ele deu uma risada, despreocupada e charmosa. “Meu nome é Christopher Vidal, 
sou irmão de Joseph.” 
 “Ah, é claro.” Senti meu rosto esquentar. Eu não conseguia acreditar que estava tão 
mergulhada na autopiedade que não fui capaz de fazer essa associação de imediato. 
 “Você ficou vermelha.” 
 “Desculpe.” Ofereci a ele um sorriso envergonhado. “Não sei muito bem como 
dizer que li uma reportagem sobre você sem que isso soe meio esquisito.” 
 Ele riu. “Fico feliz que tenha lembrado. Só não me diga que foi na coluna social.” 
 “Não”, eu me apressei em esclarecer. “Na Rolling Stone, talvez?” 
 “Isso eu consigo aceitar.” Ele estendeu o braço para mim. “Quer dançar?” 
 Dei uma olhada para Joseph, parado diante da escada que levava ao palco. Estava 
cercado de pessoas ansiosas para falar com ele, em sua maioria mulheres. 
 “Como você pode ver, meu irmão vai demorar um pouco”, disse Christopher, 
parecendo se divertir com a situação. 
 “Pois é.” Eu estava prestes a me virar quando reconheci a mulher ao lado de Joseph 
— Magdalene Perez. 
 Apanhei minha bolsa e me esforcei para sorrir para Christopher. “Eu adoraria 
dançar.” 
De braços dados, fomos até a pista. A banda começou a tocar uma valsa, e seguimos 
naturalmente o ritmo da música, com movimentos suaves. Ele era um dançarino habilidoso, ágil e seguro quanto à sua capacidade de conduzir. 
 “Então você é amiga de Joseph?” 
 “Não exatamente.” Acenei com a cabeça para Cary quando ele surgiu ao meu lado 
com uma loira escultural. “Trabalho no Jonas Building, e nós nos encontramos nos corredores uma vez ou outra.” 
 “Você trabalha para ele?” 
 “Não. Trabalho como assistente na Waters Field & Leaman.” 
 “Ah.” Ele sorriu. “Publicidade.” 
 “É.” 
 “Joseph deve estar muito a fim de você para passar dos encontros casuais nos corredores para um evento como este.” 
 Praguejei em silêncio. Sabia que as pessoas iam tirar conclusões, mas não estava 
nem um pouco disposta a ser humilhada. “Joseph conhece minha mãe, que foi quem me 
convidou para vir, então era só uma questão de duas pessoas irem ao mesmo lugar no 
mesmo carro ou em carros separados.” 
 “Então você está desacompanhada?” 
 Respirei fundo, sentindo-me desconfortável, apesar da fluidez com que nos 
movíamos na dança. “Bom, comprometida eu não estou.” 
 Christopher abriu seu carismático sorriso de menino. “Minha noite acabou de mudar 
pra melhor.” 
 Ele preencheu o restante do tempo da dança com piadinhas divertidas sobre a indústria musical, que me fizeram rir e esquecer um pouco Joseph. 
 Quando a música terminou, Cary estava a postos para a próxima dança. Nós dançávamos bem, tínhamos feito aulas juntos. Relaxei em seus braços, agradecia por ter seu 
apoio moral. 

 “Está se divertindo?”, perguntei. 
“Fiquei bobo durante o jantar quando percebi que estava sentado ao lado da principal organizadora da Semana de Moda de Nova York. E ela deu em cima de mim!” 
Ele sorriu, mas seus olhos pareciam assustados. “Toda vez que apareço em lugares como 
este... vestido deste jeito... é inacreditável. Você salvou minha vida, Demi. E depois a mudou completamente.” 
 “E você é a salvação da minha sanidade mental. Estamos quites, pode acreditar.” 
 Ele apertou minha mão e me olhou bem nos olhos. “Você não parece estar nada 
contente. O que foi que ele fez?” 
 “Acho que a culpa é minha. Depois a gente conversa sobre isso.” 
 “Você está com medo de que eu arrebente a cara dele na frente de todo mundo.” 
 Suspirei. “Acho melhor não, por causa da minha mãe.” 
 Cary deu um beijo de leve na minha testa. “Ele já estava avisado. Sabe o que vai ter 
pela frente.” 
 “Ah, Cary.” O amor que eu sentia por ele me provocou um nó na garganta, apesar 
de meus lábios sorridentes demonstrarem um divertimento relutante. Eu deveria saber que Cary daria uma de irmão mais velho para cima de Joseph. Era a cara dele. 
 Joseph apareceu ao nosso lado. “Agora é minha vez.” 

 Não foi um pedido. 
Cary parou e olhou para mim. Eu concordei. Ele se afastou fazendo uma reverência, 
com os olhos grudados em Joseph. 
 Ele me puxou para perto e partiu para a pista de dança da mesma maneira como 
fazia tudo na vida — com uma confiança absoluta. Dançar com Joseph era uma 
experiência completamente distinta em relação aos meus dois parceiros anteriores. Ele 
possuía ao mesmo tempo a habilidade de seu irmão e a intimidade com meu corpo que Cary demonstrava, mas seu estilo era ousado, agressivo, de uma sensualidade inerente. 
 Não ajudou muito o fato de, apesar da minha infelicidade, eu me sentir seduzida por 
aquele homem do qual tinha me sentido tão íntima pouco tempo antes. Seu cheiro era 
magnífico, recendendo a sexo, e o modo como ele me conduzia, com passos ousados e 
arrebatadores, fez com que eu sentisse um vazio dentro de mim, no lugar que ele havia 
ocupado pouco tempo antes. 
 “Você não para de fugir”, ele murmurou, provocando-me. 
 “Mas pelo jeito Magdalene soube ocupar meu lugar rapidinho.” 
 Ele ergueu as sobrancelhas e me puxou para mais perto. “Está com ciúmes?” 

 “Fala sério...” 
Olhei para o outro lado. 
 Ele fez um ruído de frustração. “Fique longe do meu irmão, Demetria.” 
 “Por quê?” 
 “Porque estou mandando.” 
 Fiquei irritada com aquilo, o que era uma coisa boa depois de toda a recriminação e 
de todas as dúvidas com que vinha lidando após treparmos como dois coelhos no cio. 
Decidi pagar para ver se virar a mesa era uma opção viável no mundo de joseph Jonas. 
“Fique longe da Magdalene, Joseph.” 
 Ele cerrou os dentes. “Ela é só uma amiga.” 
 “Isso quer dizer que você não dormiu com ela...?” 
 “Claro que não. Nem quero. Escute...” A música desacelerou e diminuiu de volume. 
“Preciso ir. Eu trouxe você aqui e gostaria de levá-la para casa, mas não quero estragar a 

diversão. Você prefere ficar por aqui e ir embora com Stanton e sua mãe?” 
Minha diversão? Ele estava de brincadeira ou tinha perdido totalmente a noção? Ou 
pior. Talvez estivesse tão desinteressado que nem prestava atenção em mim. 
 Eu o afastei um pouco, precisava criar certa distância. O cheiro dele mexia com 
minha cabeça. “Vou ficar bem. Me deixe.” 
 “Demetria.” Ele tentou me tocar, mas dei um passo atrás. 
 Um braço aparou minhas costas, e eu ouvi a voz de Cary. “Pode deixar que eu cuido 
dela, Jonas.” 
 “Não complique as coisas, Taylor”, alertou Joseph. 
 “Pelo que estou vendo, você já fez isso muito bem sozinho”, ironizou Cary. 
 Engoli em seco, superando o nó que havia na minha garganta. “Você deu um 
belíssimo discurso, Joseph. Foi o ponto alto da minha noite.” 
 Ele respirou fundo diante do insulto que aquilo implicava e depois passou a mão 
pelos cabelos. De forma abrupta, soltou um palavrão, e eu entendi o porquê quando ele 
sacou o telefone do bolso e olhou para a tela. 
 “Preciso ir.” Seu olhar capturou o meu e o manteve prisioneiro. Seus dedos 
passearam por meu rosto. “Mais tarde eu ligo.” 
 E ele foi embora. 
 “Você quer ficar?”, Cary perguntou em voz baixa. 
 “Não.” 

 “Eu levo você pra casa, então.” 
“Não, não precisa.” Eu queria ficar um tempo sozinha. Afundar-me em uma 
banheira quente com uma garrafa de vinho e sair daquele estado de agitação. “É melhor 
você ficar. Pode ser bom pra sua carreira. A gente conversa quando você chegar. Ou 
amanhã. Quero ficar o dia inteiro em casa sem fazer nada.” 
 Ele me lançou um olhar inquisitivo. “Tem certeza?” 
 Confirmei com a cabeça. 
 “Certo.” Mas ele não parecia muito convencido. 
 “Se puder mandar buscar a limusine de Stanton, preciso dar uma passadinha no 

banheiro.” 
“Tudo bem.” Cary passou a mão pelo meu braço.“Vou pegar seu xale no guarda-volume  e encontro você lá na frente.”
A visita ao banheiro demorou mais do que deveria. Para começar, um número surpreendente de pessoas me parou para conversar, e o motivo disso só podia ser o fato de eu ter chegado acompanhada de Joseph Jonas. Além disso, evitei o banheiro mais próximo, que tinha um grande fluxo de mulheres entrando e saindo, e encontrei um mais distante. 
Tranquei-me na cabine e fiquei ali um pouco mais de tempo do que tinha levado para fazer o que era necessário. Não havia mais ninguém ali além da funcionária responsável, não havia motivo para me apressar.
 Eu estava tão chateada com Joseph que mal conseguia respirar, e estava absolutamente perplexa com suas mudanças de humor. Por que ele havia acariciado meu rosto daquele jeito? Por que tinha se aborrecido por eu não ter permanecido ao lado dele? E 
por que tinha tratado Cary daquele jeito? Joseph dava um novo significado à velha 
descrição de uma pessoa “de lua”. 
Fechei os olhos e retomei a compostura. Minha nossa. Eu não precisava passar por 
tudo aquilo.  Tinha exposto os meus sentimentos naquela limusine e estava extremamente 

vulnerável — uma sensação que tinha me custado infinitas horas de terapia para aprender a
evitar. Eu só queria ir para casa e me esconder, libertar-me da pressão de agir como se 
estivesse tudo bem.  Você entrou nessa porque quis, lembrei a mim mesma. Agora aguenta.  Respirando fundo, saí do banheiro e dei de cara com Magdalene Perez parada de braços cruzados. Ela estava claramente à minha espera, procurando o momento certo para me pegar com a guarda baixa.

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