quarta-feira, 25 de junho de 2014

Capítulo 30

Joseph jogou os paninhos sujos de maquiagem no lixo, depois pegou uma toalha 
pra enxugar a poça que havia se formado sob seus pés. Para meu extremo deleite, ele 
começou a tirar suas roupas molhadas. 
 Deliciada com o que estava vendo, comentei: “Você se sente culpado porque ela 
ainda é apaixonada por você”. 
 “Pois é, conheço o marido dela. É um cara legal, e era louco por ela, pelo menos até 
descobrir que Corinne não sentia o mesmo por ele e tudo ir por água abaixo.” 
 Joseph olhou para mim enquanto tirava a camisa. “Eu não conseguia entender por 
que ele ficou tão abalado com isso. Estava casado com a mulher que queria, vivendo em 
outro país, então qual era o problema? Agora eu sei. Se você fosse apaixonada por outro 
homem, Demetria, isso me mataria. Mesmo que você estivesse comigo e não com ele. Mas, ao contrário de Giroux, eu não abriria mão de você. Mesmo que não fosse toda minha, seria pelo menos um pouco, e eu já me daria por satisfeito com isso.” 
 Entrelacei meus dedos. “É isso que me assusta, Joseph. Você não sabe dar valor a si 
mesmo.” 
 “Na verdade, sei, sim. Doze bilhões de...” 
 “Pare com isso.” Minha cabeça começou a girar, e eu apertei os olhos com os dedos. 
“Não é nenhuma surpresa que as mulheres se apaixonem por você. Sabia que Magdalene 
deixou o cabelo crescer só pra ficar parecida com Corinne?” 
 Ele tirou a calça e franziu a testa para mim. “Por quê?” 
 Suspirei diante daquela falta de noção. “Porque ela acha que você é apaixonado por 
Corinne.” 
 “Então está achando errado.” 
 “Está mesmo? Corinne me disse que vocês conversam quase todos os dias.” 
 “Não exatamente. Na maioria das vezes não posso atender. Você sabe que sou uma 
pessoa ocupada.” Seu olhar voltou a se acender da maneira como eu estava acostumada a 
ver. Logo percebi que ele estava pensando nas vezes em que estava ocupado comigo. 
 “Isso é loucura, Joseph. Ela ligar todo dia. É assédio.” O que me fez lembrar o 
comentário de Corinne de que ele era possessivo com ela da mesma maneira como era 
comigo. Isso me incomodou terrivelmente. 
 “Aonde você está querendo chegar com isso?”, ele perguntou em um tom de voz de 
quem estava achando graça naquilo tudo. 
 “Você não entende? As mulheres ficam malucas por sua causa porque você é o 
máximo. É a sorte grande. Se uma mulher não puder ter você, sabe que vai ter que se 
contentar sempre com menos. Por isso não aceitam essa ideia. E ficam imaginando 
maneiras malucas de chamar sua atenção.” 
 “A não ser a única que eu realmente quero”, ele rebateu, sarcástico. “Essa está 
sempre imaginando um jeito de fugir de mim.” 
 Eu me mantive impassível enquanto apreciava sua nudez diante de mim. “Me 
responda uma coisa, Joseph. Por que você me quer, se pode escolher alguém perfeito pra você? E não estou atrás de elogios, nem garantias ou algo do tipo. Só quero uma resposta sincera.” 
 Ele me pegou no colo e me levou até o quarto. “Demetria, se você não parar de pensar em nós dois como uma coisa temporária, vou dar uns tapas na sua bunda, e de um jeito que você vai adorar.” 
 Ele me sentou em uma poltrona e começou a remexer nas minhas gavetas. 
 Vi quando pegou um conjunto de lingerie, minha calça de ioga e um top. “Esqueceu que com você eu sempre durmo sem roupa?” 
 “Não vamos dormir aqui.” Ele me encarou. “Não confio que Cary não vá trazer 
mais idiotas drogados pra cá, e quando cair no sono vou estar chumbado por causa do 
remédio, então não vou poder proteger você. Vamos pra minha casa.” 
 Olhei para baixo, para minhas mãos retorcidas, lembrando que poderia precisar de 
proteção contra ele também. “Já passei por isso com Cary antes, Joseph. Não posso me 
esconder na sua casa e simplesmente torcer pra ele sair dessa. Ele precisa de mim, e eu não tenho ficado por perto ultimamente.” 
 “Demetria.” Joseph me entregou as roupas e se agachou diante de mim. “Sei que você 
precisa ajudar Cary. Vamos pensar nisso amanhã.” 
 Peguei seu rosto entre as mãos. “Obrigada.” 
 “Mas eu também preciso de você”, ele disse baixinho. 
 “Nós precisamos um do outro.” 
 Ele ficou de pé, foi até a cômoda, abriu as gavetas reservadas para ele e pegou 
algumas roupas. 
 Comecei a me trocar. “Olha só...” 
 Ele pôs o jeans de cintura baixa. “O quê?” 
 “Estou me sentindo bem melhor depois dessa nossa conversa, mas Corinne continua 
sendo um problema para mim.” Fiz uma pausa para me vestir da cintura para cima. “Você 
precisa cortar as esperanças dela pela raiz, Joseph. Precisa superar esse seu sentimento de culpa e começar a manter Corinne à distância.” 
 Ele sentou na beira da cama para colocar as meias. “Ela é minha amiga, Demetria, e está 
passando por um momento difícil. Seria uma crueldade cortar relações com ela agora.” 
 “Pense bem, Joseph. Você não é o único que teve relacionamentos no passado, e 
está estabelecendo um precedente de como lidar com eventuais reaparições. Estou 
moldando meu pensamento a partir de suas atitudes.” 
 Ele se levantou e fechou a cara. “Você está me ameaçando.” 
 “Prefiro ver como um pedido de concessão. Relacionamentos são vias de mão 
dupla. Ela tem outros amigos. Pode encontrar um ombro muito mais apropriado para suas 
crises.” 
 Pegamos o que precisávamos e voltamos para a sala. Vi toda a bagunça que havia 
ficado para trás — um sutiã verde-água debaixo da mesa, respingos de sangue no meu sofá 
claro — e desejei que Cary ainda estivesse ali para me ouvir. 
 “Cuido disso amanhã”, falei entre os dentes, com o maxilar cerrado de raiva e 
preocupação. “Que saco, eu deveria ter dado um jeito nele quando tive a chance. Deveria ter deixado ele trancado no quarto até conseguir pensar de novo.” 
 Joseph acariciou minhas costas para me acalmar. “Melhor fazer isso amanhã, 
quando ele estiver de ressaca e sem ninguém por perto. Costuma dar mais certo assim.” 
  Angus estava à nossa espera quando descemos. Eu estava prestes a entrar na 
limusine quando Joseph soltou um palavrão e me deteve. 
 “Que foi?”, perguntei. 
 “Esqueci uma coisa.” 
 “Eu te dou as chaves e você sobe pra pegar.” Comecei a remexer na mochila que 
Joseph estava segurando, onde estava minha bolsa. 
 “Não precisa, tenho uma cópia.” Ele abriu um sorriso na maior cara lavada quando a surpresa se estampou em meu rosto. “Fiz um jogo de chaves pra mim antes de devolver as suas.” 
 “Está falando sério?” 
 “Se você tivesse prestado atenção”, ele beijou minha cabeça, “teria visto que agora 
você também tem uma cópia das chaves da minha casa.” 
 Fiquei observando enquanto ele passava pelo porteiro e voltava para o prédio. 
Lembrei de todo o tormento que haviam sido os quatro dias que tínhamos passado longe 
um do outro, e da dor que senti ao receber aquele envelope com as chaves. 
 E, durante esse tempo todo, a chave para ficar sozinha com ele estava nas minhas 
mãos. 
 Balançando a cabeça, olhei ao redor, para minha nova cidade, adorando tudo aquilo 
e me sentindo grata por toda a felicidade tempestuosa que havia encontrado depois de me instalar ali. 
 Mas Joseph e eu ainda tínhamos muito trabalho pela frente. Por mais que nos 
amássemos, não havia como garantir que seríamos capazes de superar nossos traumas. Pelo menos estávamos conseguindo estabelecer uma comunicação, estávamos sendo sinceros um com o outro, e só Deus sabia como era difícil para nós dois deixar certas coisas passarem batidas. 
 Joseph reapareceu ao mesmo tempo em que dois poodles enormes e muito bem 
cuidados saíam com sua dona igualmente emperiquitada. 
 Assim que o carro arrancou, Joseph me pôs no colo e me abraçou forte. “Tivemos 
uma noite difícil, mas conseguimos superar.” 
 “Verdade, conseguimos.” Jogando a cabeça para trás, ofereci minha boca para um 
beijo. Ele me deu um bem gostoso e demorado — uma singela reafirmação de nossa 
relação complicada, enlouquecedora, necessária e insubstituível. 
 Agarrando sua nuca, passei meus dedos por seus cabelos sedosos. “Mal posso 
esperar a hora de ir pra cama.” 
 Ele soltou um rugido sexy e atacou meu pescoço com beijos e mordidas, mandando 
para longe nossos traumas e seus fantasmas. 
 Pelo menos por um tempinho... 

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