quinta-feira, 12 de junho de 2014

Capítulo 6

  A compressão súbita que senti entre minhas coxas me obrigou a procurar apoio na parede para manter o equilíbrio. Ele chegou mais perto e me escorou, mas eu o mantive à distância com uma das mãos. “Talvez eu não esteja interessada, senhor Jonas.” 
 Um esboço de sorriso transpareceu em seus lábios e fez o que parecia impossível: deixou-o ainda mais bonito. Minha nossa... 
 A campainha assinalando a aproximação do elevador me causou um sobressalto, de tão tensa que eu estava. Eu nunca tinha me sentido tão excitada na minha vida. Nunca tinha me sentido tão implacavelmente atraída por outro ser humano. Nunca tinha me sentido tão ofendida por alguém que me atraía. 
 Entrei no elevador e me virei para ele.  Jonas sorriu. “Até a próxima, Demetria.” 
 As portas se fecharam e eu desmoronei sobre o corrimão de bronze, tentando me recompor. Mal havia me endireitado novamente quando a porta se abriu e eu vi Mark andando de um lado para o outro no hall de entrada do nosso andar. 
 “Meu Deus, Demetria”, Mark murmurou, interrompendo-se de repente. “O que foi aquilo?” 
 “Não faço a menor ideia”, fui logo dizendo, louca para compartilhar a conversa confusa e ultrajante que havia tido com Jonas, mas sabendo que meu chefe não era a pessoa 
mais indicada para isso. “Mas que diferença faz? Você já sabe que a conta é nossa.” 
 Ele abriu um sorriso. “Acho que é mesmo.” 
 “Como diz meu amigo, você devia comemorar. Quer que eu faça uma reserva em um restaurante para você e Steven?” 
 “Por que não? No Pure Food and Wine às sete, se conseguir. Se não der certo, nos surpreenda.” 
 Mal havíamos voltado ao escritório de Mark quando ele foi interceptado pelos executivos — Michael Waters, CEO e presidente, além de Christine Field e Walter Leaman, a diretora-executiva e o vice-presidente do conselho, respectivamente. 
 Passei pelos quatro com a maior discrição possível e me recolhi à minha mesa. Liguei para o Pure Food and Wine e implorei por uma mesa para dois. Depois de infinitas súplicas, a hostess enfim cedeu. 
 Deixei uma mensagem no correio de voz de Mark: “Hoje é mesmo seu dia de sorte. Seu jantar está confirmado para as sete. Divirta-se!”. 
 Depois disso fui embora, ansiosa para chegar logo em casa. 
  “Ele disse o quê?” Cary estava sentado no canto oposto do sofá modulado branco, balançando a cabeça negativamente. 
 “Pois é!” Dei mais um gole no meu vinho. Era um sauvigon blanc gelado no ponto certo, que eu havia comprado a caminho de casa. “Minha reação também foi essa. Até agora não sei se essa conversa não foi uma alucinação causada por excesso de feromônios.” 
 “E então?” 
 Apoiei as pernas sobre o sofá e me recostei no canto. “E então o quê?” 
 “Você sabe o quê, Demetria.” Apanhando seu netbook de cima da mesa de centro, Cary o posicionou sobre suas pernas cruzadas. “Vai deixar essa passar?” 
 “Eu nem conheço o cara. Não sei nem o nome dele, e ele já me vem com uma proposta dessas.”  
“Ele sabe o seu.” Cary começou a digitar no teclado. “E essa história da vodca? De pedir uma reunião com seu chefe?” 
 A mão que eu estava passando pelos cabelos ficou paralisada. “Mark é muito talentoso. Se Cross tiver algum bom senso para os negócios, vai saber aproveitar e explorar isso muito bem.” 
 “Da capacidade dele para os negócios eu não duvido.” Cary virou seu netbook e mostrou o site das Indústrias Cross, que ostentava uma belíssima foto do Jonas Building. “Esse prédio é dele, Demetria .Joseph Jonas é o dono do Jonas Building.” 
 Droga. Meus olhos se fecharam.Joseph Jonas . O nome combinava com ele. Era sexy, elegante e másculo como seu dono. 
 “Ele tem um departamento só para cuidar do marketing das subsidiárias. Um departamento com dezenas de pessoas, talvez.” 
 “Pare com isso, Cary.” 
 “Ele é bonito, rico e quer ir pra cama com você. Qual é o problema?” 
 Olhei bem para ele. “Vai ser muito esquisito esbarrar com ele o tempo todo. Quero ficar um bom tempo nesse emprego. Gosto muito do trabalho. Gosto muito de Mark. Ele me deixou fazer parte do processo, estou aprendendo muito com ele.” 
 “Lembra o que o doutor Travis falou sobre riscos calculados? Quando seu analista diz pra você correr riscos, você ganha esse direito. Quer dizer que você pode lidar com isso. Você e Cross são duas pessoas adultas.” Ele voltou a atenção novamente para a busca que fazia na internet. “Uau. Sabia que ainda faltam dois anos para ele fazer trinta? Imagine só a disposição...”
“Imagine só a grosseria. Fiquei ofendida com o jeito como ele falou comigo. Detesto me sentir como uma vagina ambulante.” 
 Cary parou e se virou para mim, seus olhos exalando compaixão. “Desculpe, gata. Você é tão forte, tão mais forte do que eu. Duvido que cairia nas ciladas em que caio.” 
 “Não acho que eu seja tão forte assim, pelo menos não o tempo todo.” Desviei o olhar, porque não queria falar sobre tudo o que enfrentamos no passado. “Não que eu queira namorar ou coisa do tipo. Mas existem outras maneiras de dizer que você quer ir pra 
cama com uma mulher.” 
 “Você tem razão. Ele é bem arrogante e pretensioso. Que fique morrendo de tesão por você até subir pelas paredes. Vai ser um castigo merecido.” 
 Isso me fez rir. Cary sempre conseguia me fazer rir. “Duvido que alguma vez ele tenha subido pelas paredes por causa de alguém, mas é uma fantasia divertida.” 
Ele fechou o netbook em uma atitude resoluta. “O que vamos fazer hoje à noite?” 
 “Pensei em ir ver a aula de krav maga daquele sujeito do Brooklyn.” Eu tinha feito uma pesquisa durante a semana, depois de conhecer Parker Smith no treino na academia, e a ideia de dispor de uma válvula de escape tão enérgica e brutal para o estresse me parecia cada vez mais interessante. 
 Eu sabia que não seria o mesmo que trepar loucamente com Joseph Jonas, mas achava que seria bem menos perigoso para minha saúde. 

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